Feedback não é mensagem

A primeira vez que tive contato com a palavra feedback foi estudando eletrônica, quando ainda estava no ensino médio e fazia também curso técnico em eletrotécnica no Colégio Técnico Industrial de Santa Maria (CTISM). Bons tempos.

Revendo os conceitos hoje, depois de ouvir e usar tantas vezes o termo no dia-a-dia do trabalho como uma ferramenta de comunicação, fico refletindo se é possível fazer alguma analogia.

Em eletrônica, o termo é traduzido por retroalimentação, e ocorre quando o sinal elétrico da saída é encaminhado para a entrada de um circuito, ajudando a modular o funcionamento do circuito e a própria saída utilizando-se do próprio resultado.

Pode ser que não seja possível tirar muitas conclusões aqui, mas lembro que já cheguei a pensar e dizer, quando comentava com uma equipe sobre feedback de usuários: “It’s only feedback if it feeds back” (algo como “Só é feedback quando retroalimenta”), querendo ressaltar a importância de se conhecer e levar em consideração o retorno que os usuários davam sobre o produto.

O que queria dizer era que, no caso de um circuito, chamávamos de “feedback” justamente a reutilização do sinal da saída novamente na entrada do circuito, e se o sinal da saída não está sendo reaproveitado na entrada, não existe feedback (retroalimentação).

No final das contas, é possível usar o conceito pra fazer algumas analogias. Por exemplo, quando estamos desenvolvendo um produto, somos responsáveis por implementar e fazer funcionar esse circuito de retroalimentação: criar espaços e canais para ouvir usuários e estabelecer processos para aplicar o que aprendemos para evoluir o produto (1).

Nesse sentido, não é exatamente preciso quando dissemos que nossos usuários nos “dão feedback” ou que nós “obtivemos feedback” de nossos usuários. Isso porque o “feedback”, na realidade, só vai acontecer quando o conteúdo recebido é de alguma forma utilizado no desenvolvimento do produto, ou seja, quando o circuito de retroalimentação está conectado e funcionando.

Em outras palavras, o “feedback” não é algo que recebemos ou que obtemos, é algo que implementamos e fazemos funcionar.

De forma análoga, no contexto de gestão de pessoas, acredito que uma perspectiva semelhante também possa ajudar: os líderes são responsáveis pela implementação e por garantir o funcionamento do circuito de retroalimentação ou “feedback”, que não é algo que é “dado” ou “obtido”.

Assim, também não é exatamente preciso dizer que líderes precisam “dar feedback” ou “obter feedback” de seus liderados (e vice-versa), porque o “feedback” não é um conteúdo ou uma mensagem transmitida, é um circuito implementado e funcional. Veja que, se entendemos que se trata apenas de transmitir uma mensagem (o que já é ótimo e muito necessário), as responsabilidades são bem menores.

No entanto, se somos responsáveis pelo circuito implementado e funcional de retroalimentação, a responsabilidade é muito maior e não se extingue com a transmissão de uma mensagem, mas envolve garantir que o circuito esteja funcionando, implica estar conectado, mapeando os gargalos, avaliando as perdas e evitando conexões com “mau contato”.

Portanto, chego ao final deste texto com a conclusão de que é possível, sim, fazer alguma analogia para refletir sobre o “feedback” no uso que fazemos no dia-a-dia organizacional das empresas, especificamente para sair de um conceito mais restrito de “mensagem transmitida” para o de um “circuito implementado e funcional”, o que implica um envolvimento muito maior em todo o processo de evolução contínua de um produto ou de uma equipe.

O que acham? Faz sentido ou viajei demais por aqui?

(1) Sobre esse circuito de retroalimentação para o desenvolvimento de um produto, recomendo o livro Continuous Discovery Habits, de Teresa Torres, mas também existe muito material disponível no site Product Talk e no perfil do LinkedIn da autora.

Fonte da Imagem Destacada: TOSHIBA (https://toshiba.semicon-storage.com/eu/semiconductor/knowledge/e-learning/basics-of-op-amps/chap2/chap2-2.html)